Em março de 2011, o jornalista Carlos Pontes me convidou para
editar em Parnaíba a revista cultural Mambembe. Ele já vinha de uma experiência
muito proveitosa em Fortaleza e queria repetir o feito por aqui. Quando
tratamos sobre as matérias pude perceber que havia na bagagem dele muita coisa
longe da nossa realidade e que ele insistia em priorizar. A proposta da revista
era estimular o gosto pela leitura e abrir um canal pra divulgação de nossa
cultura, principalmente a literária.
Bernardo Carranca, o imperador da música |
Sugeri alguns assuntos de reportagens tais como uma matéria
com o Paulo Gaspar, artista plástico e meu amigo de infância, um mergulho na
obra do cordelista de Amarração, Firmino Teixeira do Amaral, o teatro de
Joaquim Lopes Saraiva e uma surpreendente entrevista com o cantor mais que
popular Bernardo Carranca. Ele havia há pouco produzido e lançado por sua conta
e risco um DVD, com o título pomposo de O Imperador da Música.
Mas esta minha curiosidade por Bernardo Carranca ser matéria
da edição de número quatro da Mambembe foi encontrar este DVD sendo vendido com
muita procura nas bancas de camelôs em toda a Parnaíba. Foi um custo encontrar
um exemplar, pois já estava praticamente esgotada a tiragem de três mil cópias.
Quando falei sobre a carreira e a popularidade de Bernardo Carranca, Carlos
Pontes ficou relutante. Ele queria matérias sobre literatura tipo Cervantes,
Freud, Nietsche, Gabriel Garcia Marquez e coisa e tal.
Coisa alta pra nossa cabeça e mais ainda pra uma proposta de
formar leitores num meio de mundo desses. Eu insisti que se tivesse que começar
estimulando leitores, que fosse falando sobre assuntos de interesses da
sociedade local, seus ídolos, costumes, sua forma de viver. Mesmo que aos olhos
de muitos essas coisas e situações pudessem parecer ridículas ou extremamente
exóticas. Finalmente eu e nosso competente diagramador Pedro Guitar acabamos
vencendo a peleja. E Bernardo Carranca, com seu carisma e improvisações foi
alçado na matéria da Mambembe.
Fui até sua casa no meio de uma tarde e lá pude fazer uma
entrevista. Sem sombra de dúvidas uma das minhas melhores. Ele me falou de
tudo. Desde o início da carreira com Os Grilos, dos irmãos Soriano, a formação
de outras bandas, a carreira solo, a retomada com os filhos, as esquisitices,
as grandes interpretações, viagens, clientes e muitas das vezes até a rejeição
de muita gente ao seu estilo e a seu repertório.
Mas seguiu em frente. Soube ser artista do seu jeito até o
fim. Levou até onde deu alegria e entretenimento pra muita gente. Criou e
manteve como disse de si mesmo na entrevista, a fama de um artista que sempre
surpreendia. “Bernardo Carranca é um artista folclórico na cidade de Parnaíba”,
disse. O imperador está morto. Fica o trono vazio.
Por Pádua Marques
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